Acabo de sentir uma vontade de voltar a gostar de alguém. Lugar inadequado para isso, visto que estar em um bar cujo público são jovens caçadores não seria o melhor momento para por em prática tal objetivo. Já havia colocado na minha cabeça que não posso mais cair nisso. O ruim é sempre ter que recordar tudo que passei, deixando vívidas as lembranças a fim de evitar uma repetição. Criei um repúdio desta programação inata.
Peço mais uma cerveja no bar e pego um copo descartável. Limpo tudo com um guardanapo, como se isso viesse a evitar a tal gripe. É duro ser pesteado em tempos de pandemia. Me apoio no balcão e me dou conta que não estou cansado da ação de gostar. Estou cansado dos trâmites obrigatórios que os relacionamentos impõem. Desde a parte de conhecer família e perder os finais de semana até responder às cobranças e evitar o envio dos convites para gráfica. É isto que causa uma preguiça dinossaurica, que já é extremamente acentuada na carcaça deste que vos pensa.
Decido ir para casa. Entro no carro e dirijo automaticamente escutando um magrão gritar que já está na hora de algo estourar. Será que está? Seria bom. Abro a porta de casa e sinto o cheiro do cachorro. Claro que estou sendo extremamente gentil ao usar a palavra ‘cheiro’. Abro uma garrafa de coca-cola, sirvo um copo, olho para o cachorro e mando-o parar de feder. Ele me encara com cara de sono e não obedece. E ainda dizem que é o melhor amigo do homem.
Deito em minha cama sem escovar os dentes. Coloco a culpa nessa vontade que não quer passar. Surgem sensações de como era bom poder tirar fotos juntos, poder dizer que se tem alguém. Aquela coisa piegas de ter um porto seguro; alguém para confiar. Acho que esta vontade deve fazer parte de uma crise de abstinência. Afinal de contas, foram quase nove anos vivendo essa história. Essa história não, essas histórias. Foram vários começos e fins.
Relembrando esta parte, percebo que realmente estou é cansado de acreditar sem acreditar. De viver e se esforçar por algo que já tem seu final escrito. Então me pergunto: vale a pena? Pois hoje eu sei que se o sentimento não morre, certamente acaba dormindo. Como nos casamentos cômodos ou de aparências que nos cercam. Infelizmente parece que só podemos escolher entre morrer e dormir. Acredito que um terceiro caminho precisa ser inventado, porém, deitado aqui nesta cama, opto por dormir.
17-08-09