Ouro de Tolo

Um dia como este deveria me remeter à alegria. Sinto que poderia e mereceria estar contente, mas não estou. Tudo bem que tenho um emprego e até sou reconhecido por isso. Não reclamo, porém, não parece suficiente. Por vezes me falam, “olha só, já deve estar rico”. Certamente também entendo o peso do dinheiro. Mas e daí?

Se eu fizesse parte de alguma igreja ou religião agradeceria de forma convicta tudo o que ganhei. Ou conquistei? Enfim, agradeceria sem pestanejar. Lembro de quando consegui comprar meu carro. O primeiro carro. Esperei muito tempo por isso e assistir a graça desta conquista adormecer no mesmo instante que saí da concessionária foi demais para mim. A graça se foi. Pelo menos fiquei com a comodidade que tem me feito engordar.

Gostaria de levantar e me sentir alegre. Olhar para o sol e este funcionar como um grande motivador que me faria continuar lutando por tudo que almejo. A vinda para esta cidade foi muito difícil e hoje, olhando para tudo que meus pais conseguiram alcançar, percebo o quanto valeu a pena. Imagino que não tenha sido fácil ter que economizar comida ou tomar banho de caneca.

Eu realmente deveria estar feliz. Mas não seria a felicidade uma piada de mau gosto? As pessoas que simplesmente sorriem sem saber de onde vem a graça não mereceriam conhecer este sabor. Trata-se de um ciclo. Um ciclo perigoso que nos mantém em uma corrida incansável atrás da dita felicidade. Preciso confessar que a sequência de conquistas apenas me trouxe um sentimento: decepção. A facilidade destas vitórias só me trouxe mais sede. Sede de novas conquistas que infelizmente, ou felizmente, não me permitem ficar parado.

Hoje trabalho duro durante a semana para poder aproveitar um pouco o sábado e o domingo. Poder ir a algum parque de diversão ou zoológico são lazeres que antes não pensava por na prática. Porém, não consigo achar nada disto engraçado. Acabei me tornando um cara extremamente chato. Macaco, praia, carro, jornal, tobogã, eu acho tudo isso um saco.

É irônico sentir-se um idiota limitado em um belo dia como este. No entanto, é assim que me sinto ao olhar-me no espelho do banheiro. O meu reflexo apenas me lembra que ainda não fiz nada de tudo que poderia fazer. Isto vai de encontro direto com o nosso conformismo do dia a dia. Acreditar que se é um padeiro, policial, advogado ou médico e isto bastar para conduzir a vida até o fim.

Troco minha roupa e decido que hoje tentarei fazer diferente. Não vou ficar simplesmente sentado esperando para ver o que acontecerá. É isto que a rotina quer. É isso que todos querem. Como o sol falhou, preciso utilizar o fato de ser um chato insatisfeito como algo que me impulsione a não querer ficar sentado com a boca cheia de dentes esperando que a morte me leve. É o saber e o conhecimento sobre tudo que ainda precisa ser desvendado que não me deixará ficar na inércia. É aquela sede que me fará, inclusive, perder o medo de alienígenas. A sede do novo.

21/05/2011

Uma resposta to “Ouro de Tolo”

  1. …havia chegado o momento em que a solidão e a independência já não eram seus objetivos e seu anseio… (O lobo da estepe)

Deixe um comentário